ALFINETE A MÃO ROSA
[Ação coletiva realizada durante o 5° Salão de Artes Visuais Pinhais/08.06.2022]
Sobre instituições e respeito aos artistas.
No dia 08/06/22, às 19h, houve a abertura do 5º Salão de Artes Visuais de Pinhais-PR, e o Grupo Em-cadeia promoveu uma ação artística em resposta à conduta desrespeitosa tomada pela organização do evento diante de um dos trabalhos selecionados.
O trabalho, instalado no espaço expositivo de forma adequada e em perfeitas condições, foi danificado antes mesmo da abertura do evento. Na segunda-feira a organização entrou em contato telefônico com a artista, informando sobre um acidente, no qual a obra - uma mão de silicone - teve um dedo arrancado por uma criança, que teria até mesmo mordido o trabalho. Nas mensagens escritas posteriores, mudou a versão sobre o ocorrido, dizendo que não sabiam como havia ocorrido o acidente. Afirmaram que não poderiam se responsabilizar pelo dano, mas que já haviam “consertado”, colocando dois alfinetes que fixavam a parte ao restante da obra, conserto que julgaram ser melhor que tentar colar a peça (que, segundo eles, seria a segunda opção). Por fim, avisaram que colocaram um aviso ao lado: “Favor não tocar”. Todas decisões tomadas sem consulta ou discussão prévia com a artista. O trabalho chama-se “Toca aqui”, e propunha justamente a interatividade do espectador, tocando-a.
No mesmo dia que ocorreu o primeiro contato a respeito do acidente a artista se dispôs, ainda assim, a fazer o possível (visando o prazo de dois dias que teria antes da abertura) para refazer a obra, criando uma nova peça, e também instalá-la novamente no local. Pediu apenas que lhe fossem ressarcidos os valores do material e combustível. Porém, a organização não respondeu. Apenas poucas horas antes da abertura do evento a organização telefonou para a artista, lamentando o ocorrido, mas não que havia verba prevista para esse tipo de ocorrência.
Assim, durante a abertura, o Grupo Em-cadeia entregou alfinetes aos artistas e convidados presentes, apenas dizendo: “você já alfinetou a mão rosa?” Questionados por alguns, apenas disseram: “O Grupo Em-cadeia está dando continuidade a uma ação que o Salão começou.”
Toda forma de produzir cultura no país que vivemos é resistência. Nesse sentido, nós do Em-cadeia reconhecemos o esforço e a importância de dar continuidade ao incentivo à produção de arte contemporânea que o Salão se propõe. Contudo, é importante ressaltar que não há concerto em obra de arte, mas sim restauro. E muito menos há solução ao alfinetar um trabalho de arte sem consulta prévia do artista. Em verdade, o que há aqui é um atravessamento institucional, no qual o trabalho, que um dia foi da artista, passa a ser resultado de uma ação de sobreposição do grupo Em-cadeia aquela que o próprio Salão deu início.
Grupo Em-cadeia
