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[Projeto coletivo/2020 - 2021]

Uma série de janelas posicionadas próximas umas às outras, formando uma estrutura circular, é o que compõe a presente proposta desenvolvida pelo grupo Em-cadeia. Trata-se de um ambiente virtual inspirado no panóptico de Jeremy Bentham, um projeto de penitenciária cuja arquitetura possui o formato de um círculo, que permite ao vigilante, localizado no centro da estrutura, acesso visual a todas as celas do presídio. Tal espaço, projetado pelo grupo, agrega não só imagens internas de janelas de origens distintas, como também suas respectivas vistas. Estas fotografias, tiradas pelos próprios artistas e pelo público, levantam questões a partir deste objeto no atual contexto gerado pela pandemia da COVID-19. Neste momento de isolamento social, o espaço da casa tornou-se, para muitos, o palco central das atividades diárias. As paredes que estruturam nossos lares delimitam um mundo que agora é vivido intensamente. É como se este fosse um dos poucos possíveis dentro de todos os outros que existem. Tornamo-nos prisioneiros? Uma prisão não se constitui somente em um espaço físico no qual estamos cercados; está presente no modus operandi vigente, nos comportamentos e regras de uma sociedade, nos medos e pensamentos de uma população, ou nos sistemas de vigilância. O ato de vigiar, segundo Michel Foucault, é uma ferramenta disciplinar, uma demonstração de poder, que contribuiu não somente para a construção de presídios como também para os processos de urbanização.¹ Tais instrumentalizações permitiram o controle sobre a população, que passou a viver sob a mira do Estado. A hierarquização da vigilância, entretanto, não se apresenta apenas das ordens distantes para as ordens próximas², mas também está presente dentro da organização destas últimas, seja nas constituições familiares, na vizinhança ou, ainda, nas redes sociais. Vigiamos e somos vigiados, alternando nossos papéis entre vigilante e encarcerado, ou os vivenciando simultaneamente. Trata-se de um aprisionamento que ocorre de forma sutil, cujas consequências são quase imperceptíveis. Ao mesmo tempo, a nova realidade nos compeliu a repensar, buscar saídas (janelas?), mudar e criar novos planos, ressignificar a presença humana e o nosso redor, transformar a vida - que precisa seguir - e reinventar a nós mesmos. Tornamo-nos artistas? Imersos nessa busca e isolados, a janela pode ser encarada como uma figura simbólica de liberdade, mesmo que esta seja, por vezes, ilusória. Abrir a janela de nossas casas é semelhante a abrir os olhos ao acordarmos. É o despertar da casa, deixando que a luz penetre e que tudo se faça visível. Neste momento a casa vive, respira e, assim, nós respiramos também, prontos para um novo dia. A vida, então, acontece, diante e por detrás da janela. Esta é um ponto de conexão entre esses dois lados. Ao abrirmos este acesso, permitimos que parte do mundo de lá (exterior) entre em contato com o mundo de cá (interior) e vice-versa. É como um portal que, mesmo pequeno demais para ser atravessado, nos dá esperança de que existe algo para além de nossa realidade. Podemos dizer, portanto, que existe algo de onírico na janela, pois nos direciona a outra imagem, não correspondente à que vivemos fisicamente naquele momento. Assim, ao acessarmos esta projeção, permitimo-nos viajar para além dos limites em que nos encontramos. Sonhamos e, ao sonharmos, abrimos, em nós, nossas próprias janelas. O que há na tua janela? O que vê através dela?

¹ FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1987: “Durante muito tempo encontraremos no urbanismo, na construção das cidades operárias, dos hospitais, dos asilos, das prisões, das casas de educação, esse modelo do acampamento ou pelo menos o princípio que o sustenta: o encaixamento espacial das vigilâncias hierarquizadas.”

 

​² Henri Lefebvre, no livro O direito à cidade (2001, p.52), refere-se às ordens distantes, os responsáveis por reger a sociedade como um todo: o Estado, a Igreja e as grandes instituições; enquanto as ordens próximas constituem-se pelos membros da sociedade: pessoas das diferentes classes sociais, núcleos familiares, profissionais de diversas áreas, corporações, etc. ​

Português
00:00 / 07:24
English
00:00 / 07:23
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Participantes

Adriana Wenk

Allison Ganzert

Amanda Aguiar

Ananda Hamon

Auderi De Marco

Caetano Calluf de Almeida

Caio Augusto de Castro da Silva Reis

Camila Sartori

Camila Vanucci

Denise Nogueira dos Santos

Diana Wittkowski

Emerson F. Oliveira

Estêvão Lucas Eler Chromiec

Evelly Caroline Rodrigues da Silva

Everton Luiz Szychta

Fabiola Amaral Moreira

Gabriela Sutter Warmling

Guilherme Bergamini

Helio Brandão

Iracy do Rocio Chaves

Izabela de Lima Feitosa

Jerônimo Nogueira Nobre Neto

Julia Ehrsam

Kayna Mello Heleno

Kellity Aparecida Dias de Souza

Laura Serrer Saldanha

Luce Catalá

Luiz Carlos Sereza

Luiza Fialho Moscal

Maikel Aparecido da Maia

Marcellen Neppel

Maria Ester Brandão

Maria Maíria Leite Carlos

Mariana Lira dos Santos

Mariana Midori Ando

Marianne Bianca Rodrigues​

Marina Carneiro Leão de Camargo

Marina de Freitas Raimundini

Matheus de Oliveira Portela Sérvio

Mauro Vinicius Dutra Girão

Michelle Verschoor

Leonardo Ferreira

Noah Barros da Silva

Paulo Urban

Rafaela Mota de Lima

Renata Santos Finn

Tânia Bloomfield

Tânia Foggiatto

Victor Costa Lopes

Vivian Mendes

Vivien Patrícia Zanlorenzi

Wesley Lima Brito

Zelia Brandão

Dados do projeto

Estados brasileiros participantes:

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Paraná 54.9%

Ceará 11.7%

Santa Catarina 9.8%

São Paulo 7.8%

Goiás 1.9%

Minas Gerais 1.9%

Ceará 11.7%

Rio de Janeiro 1.9%

Alagoas 1.9%

Rio Grande do Sul 1.9%

Piauí 1.9%

Rio Grande do Norte 1.9%

Rondônia 1.9%

Países participantes:

Brasil 87%

Noruega 3.7%

Inglaterra 3.7%

Suíça 1.85%

Alemanha 1.85%

França 1.85%

Média de idade dos participantes:

51 - 60 anos 9.4% 

41 - 50 anos 13.2%

31 - 40 anos 37.7%

21 - 30 anos 37.7%

11 - 20 anos 1.8%

Texto Crítico

ARCHER, Renan. Visualidades, Espaços e Janelas: significando elementos e compartilhando significados antes e durante a pandemia. Revista Desvio. 2020.

ANDRADE, Camila de Souza Lima de. “Quartos” de Rochelle Costi e “Sou visto enquanto vejo onde não estou”, Grupo Em-cadeia: uma aproximação. Programa de Pós Graduação em Tecnologia e Sociedade Universidade Tecnológica Federal do Paraná. 2020.

Participação em evento

Tão longe, tão perto

Palestra no Tão longe, tão perto (@taolonge.taoperto), movimento criado pelos cursos de Design da UTFPR para oferecer gratuitamente, durante o isolamento social, atividades ligadas a design, arte, criatividade e saúde mental - out/2020.

AGRADECIMENTOS

Yasmin Kozak
Áudio em português, colaboradora nos textos
e na concepção do projeto

Noah Barros
Engenheiro de Software

 
Débora Reis​
Áudio em inglês
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